Entrevista ao Escritor e Professor de Capoeira Jean C. de Andrade

Lais Rocha (Jornalismo)

A capoeira pode ser considerada uma cultura popular do nosso país?

Jean C. de Andrade – Sim, a capoeira é de fato uma cultura popular de nosso país, ela é totalmente originária de terras brasileiras. A capoeira constitui sua base de sustentação filosófica, a partir da sabedoria popular, advinda hora do dia a dia, hora dos próprios ensinamentos bíblicos, da lógica africana traduzida pelos mistérios, crenças e rituais do Candomblé. A capoeira nos  traz  cultura, música, lazer, e recreação, além de ser um ótimo esporte físico e de defesa pessoal.

No seu livro A Magia da Capoeira você conta a história da capoeira até os dias atuais, você acredita que a capoeira tem sua história valorizada no nosso país?

Jean C. de Andrade - Infelizmente  a história da capoeira é feita por perseguições, ao logo dos tempos houve muita proibição desta arte, chegou á ser marginalizada, somente melhorou algum tempo depois com a adesão de jovens de classe mais elevada á pratica desta luta. Mas nos tempos de hoje ela ainda precisa de mais apoio,  é uma cultura nacional e precisa ser mais valorizada por parte dos nossos governantes, temos em atividade no Brasil vários Mestres respeitadíssimos na área da capoeira, sendo que levam este esporte á vários países, muitos resolveram ir embora, pois recebem muito mais apoio em terras estrangeiras do que no próprio país.

Seu livro além de um relato histórico trás a história de grandes lideres da capoeira, como eles contribuíram para que essa manifestação cultural permanecesse viva?

Jean C. de Andrade - Muitos Mestres antigos doaram praticamente suas vidas ao reconhecimento da capoeira, muitos deles eu cito em Meu livro A Magia da Capoeira. No início uma grande lenda da capoeira ,Zumbi dos Palmares (O Rei do Quilombo), Manuel Henrique (Besouro Cordão de Ouro)teve até um filme á seu respeito, Mestre Vicente Ferreira Pastinha foi um grande filósofo da capoeira, hoje nos Estados Unidos  são reconhecidos e respeitados os alunos de sua academia, Ciriaco que ficou famoso por derrotar Sada Miako, campeão japonês de Jiu-Jitsu, João Grande  que era exímio no som de atabaque e muito bom ao se defender, Canjiquinha era também incrível com os instrumentos  e nas cantigas populares, chegou á atuar no cinema, Mestre Bimba foi o grande libertador da capoeira como luta competitiva, ele inventou a capoeira Regional, ou seja, com características mais rápidas, depois que a capoeira foi proibida, Bimba conseguiu registrar sua luta como curso de educação física  pela secretaria da educação, assim a capoeira foi introduzida no currículo de ensino da polícia militar do estado da Guanabara.

A cultura popular brasileira tem pouco espaço nos meios de comunicação de massa como TV e Rádio, você acredita que essa baixa exposição interfere para que a nossa cultura seja mais valorizada e conhecida entre os brasileiros?

Jean C. de Andrade - Infelizmente é  a realidade, a cultura em geral tem pouco espaço nas TVs abertas e nos rádios, mas também ela é pouco valorizada em nossas cidades se tratando de  cultura por nossos governantes, basta fazermos uma pequena pesquisa sobre as artes culturais de outros países para constatarmos a grande diferença, suas artes culturais são ensinadas nas escolas e têm muito respeito de todos, assim a história permanece, faz parte da essência de cada um, no Brasil a cultura e a história é escondida debaixo do tapete, talvez pelo fato de se ter início em um período vergonhoso, no caso a escravidão.

Existe uma corrente que tem como intuito tornar a capoeira um esporte, inclusive inserindo em competições mundiais como as Olimpíadas. Você acredita que seria um ganho para a capoeira ou perderia seu espírito cultural que envolve a dança, a musica e o ritual?

Jean C. de Andrade - A capoeira já é considerada um esporte, tanto que além de apresentações culturais, existem competições pelo Brasil, há competições á nível nacional e Estadual, eu mesmo sou Vice Campeão Mineiro, esta é a grande maravilha da capoeira, ela se divide, se transforma, ao mesmo tempo que se torna uma dança, ela também é uma luta eficaz, ela é uma mistura de gêneros e uma ótima arte para auto- defesa. A corrente do momento já está em tramite faz algum tempo, seria inserir a capoeira nos jogos olímpicos, isto seria possível se a luta fosse praticada também em outros países, isto já acontece e muito bem, o que está á meu ver impedindo disto acontecer, é a falta de união dos esportistas, há uma grande divisão nos métodos de ensino da capoeira, falta ainda uma grande organização, a capoeira que é praticada no Sul do País é diferente da mesma praticada no Norte, seja por seus seguimentos e graduações, também na formação de seus professores, eu, particularmente sigo a confederação Brasileira de Capoeira, muitos não seguem, assim fica difícil inserir a luta em uma competição tão organizada como são as olimpíadas.

Você é poeta, escritor, roteirista, professor e artista plástico como a cultura popular brasileira influenciam nos seus trabalhos?

Jean C. de Andrade - Praticamente em tudo, em toda forma artística procuramos nos inspirar nas culturas populares, meus poemas contam histórias populares e amorosas, alguns contos engraçados, lendas populares, brincadeiras e piadas, causos, enfim tudo o que escrevo e pinto em meus quadros, têm a expressão da cultura popular, eu faço parte do Brasil e coloco tudo sobre ele em meus trabalhos.

Como professor de capoeira você sente que além de uma cultura e um esporte existe um fundo social e comunitário nas rodas que se formam em todo o país?

Jean C. de Andrade - Com certeza existe, a capoeira tem uma origem humilde, então ela nos leva á refletir sobre a atual situação social, a capoeira desenvolve a sensibilidade artística, atua como terapia  e melhora  o poder de concentração e o alto controle emocional, a capoeira é encontrada em escolas, academias, praças, grupos sociais, enfim, reúne pessoas de classes diferentes, na capoeira todos se tornam iguais, dentro de uma roda são todos capoeiristas, a história da capoeira nos apresenta  uma origem sofrida, a luta une as pessoas como irmãos, ajuda á se preocupar com o seu próximo, seu companheiro, isto ocorre em toda manifestação que envolve a capoeira, além do fato de ser cultura e esporte, ela educa e prepara o jovem para o futuro, o faz respeitar a tradição e ser mais humilde.

Para finalizar gostaria que me contasse um pouco da sua história e como se envolveu de forma tão próxima com a capoeira e a nossa cultura popular brasileira?

Jean C. de Andrade - Estou na capoeira desde 1993, comecei á treinar na Academia Santa Isabel  em Bom Repouso MG, com meu primo  Mestre  Roque José dos Santos, irmão de Mestre Geraldo (Gera) que está á frente do Grupo Santa Isabel Capoeira localizada em São Caetano do Sul SP no ginásio Gisela.  O Grupo Santa Isabel tem linhagem de Mestre pinatti, é uma filial do grupo que está em são Caetano do Sul, apesar de ter uma certa separação de liderança, Mestre Roque é Formado de Mestre Gera( Seu irmão),após formado Mestre Roque  deu  início á academia  em Bom Repouso MG no ano de 1993, quando me deparei com a sua primeira apresentação, percebi que eu tinha que fazer parte desta luta, era mágico e perfeito, saltos acrobáticos se misturando á golpes de luta, uma dança inimaginável para minha época, eu tinha 17 anos aproximadamente, um menino sonhador de cidade pequena, comecei á treinar e nunca mais parei, já participei de vários campeonatos e eventos pelo Brasil, já fui campeão e vice campeão na capoeira, escrevi vários livros e um deles sobre a minha experiência com esta luta mágica, apesar de perceber que a capoeira ainda precisa ser mais organizada, vejo muitas melhorias e seu crescimento a cada dia, enquanto  houver professores qualificados e empenhados, haverá sempre uma boa capoeira, a história é linda e merece total respeito do cidadão brasileiro, é nossa arte, é nossa luta. Para saber um pouco mais sobre o meu Livro “A Magia da Capoeira” ele está disponível para venda no Site www.clubedeautores.com.br  .

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